Cristina Delanhesi concede entrevista exclusica a Hardecor. Presidente do MACS, Museu Arte Contemporânea de Sorocaba, Cristina discorre, neste e no post anterior (veja AQUI) sobre os desafios, alegrias e tarefas que é gerir um museu privado em uma cidade do interior no Brasil. Em fase de reforma, o MACS ocupa o edifício anexo à Estação Ferroviária por meio de um termo de cooperação técnica com a Prefeitura de Sorocaba. O prédio atual receberá um anexo, projeto de Pedro Mendes da Rocha, que preserva a memória do edifício e respeita sua volumetria, requalificando todos os espaços para as necessidades do Museu, além de recuperar aspectos originais que o tempo degradou pelo abandono e devolvendo à cidade um espaço requalificado para a cultura, o estudo e o lazer. Embora a instituição ainda não tenha concluído as obras de reforma, já organiza exposições, eventos e palestras, ocupando de forma saudável e criativa as instalações, dando vida ao espaço. A coleção em formação, deverá apresentar, prioritariamente, um conjunto abrangente da arte contemporânea brasileira e internacional considerando eixos importantes da museologia: artes plásticas, design e arquitetura. Nomes de peso como Nelson Leirner, Marco Giannotti, Beatriz Milhazes, Tomie Ohtake, Alex Flemming, Estela Sokol, Maureen Bisiliat, Antonio Henrique Amaral, Ester Grinspum, German Lorca, Lenora de Barros, entre outros, já estão na coleção do MACS, que tem foco, de acordo com as diretrizes do seu conselho curador, prioritariamente em obras de artistas produzidas na década de 1970 até os dias de hoje, mantendo os traços contemporâneos através do tempo e da existência do próprio MACS. A apenas 87 km de São Paulo, Sorocaba conta com essa turma de gente valente responsável pela abertura e gerência do MACS, que dá exemplo e deve inspirar outras cidades do interior. Para entender e conhecer um pouco mais dessa história de coragem e sucesso, Delanhesi conta um pouco de experiência como incentivadora e presidente do MACS.
Hardecor: O museu comercializa obras? Explique por favor como funciona.
Cristina Delanhesi: O museu mantém atividades de captação através de vendas de obras, mas não é uma atividade fim. Todas as obram que compõem o acervo não são destinadas a venda. Recebemos com frequência propostas de campanhas com artistas incríveis que destinam em geral 50% das vendas para a instituição. As vezes recebemos doações de colecionadores de obras para o mesmo fim. São uma fonte de recursos importante, mas não é nosso foco.
H: Como a comunidade pode contribuir?
CD: Pode contribuir de diversas maneiras, frequentando, divulgando, participando de nossas redes sociais, fazendo trabalho voluntário e até se associando como Amigo do Museu.
H: Você pode discorrer sobre como é montar uma exposição? Como os artistas são escolhidos e porque, quanto tempo demora esse processo, e tudo o mais que considere importante.
CD: As exposições são definidas pelo nosso diretor artístico Fabio Magalhães. Em geral a programação é feita com dois ou no mínimo um ano de antecedência. Quando se resolve o que vai ser exposto, montamos um projeto prevendo todos os custos de produção da exposição: o transporte e seguro das obras caso venham de fora, custos com equipe, do curador aos educadores, custos administrativos, manutenção do prédio para receber a exposição, limpeza do espaço, iluminação, custos de montagem e desmontagem, divulgação, etc. Após esta etapa seguimos para a captação destes recursos, seja via lei de incentivo e edital, ou através de patrocínio direto de uma empresa. Somente depois disso partimos para a realização do planejado. No meio desse processo todo é necessário fazer um bom planejamento de divulgação. É muito trabalho envolvido.
CD:Um questionamento recorrente é o que define uma obra de arte e o que a diferencia de um objeto qualquer ou de uma peça de artesanato. O que você pode dizer sobre isso?
CD: Esse questionamento sempre gera discussões e as vezes até atrito, mas em geral para uma obra estar em museu é necessário que o artista criador tenha percorrido um percurso. Para uma pessoa chamar a atenção de curadores das instituições ele terá que ter um bom portfolio que pode incluir sua formação, exposições coletivas e individuais, participação em coleções e acervos importantes e é claro imagens que comprovem uma produção artística constante e em crescimento. Junto com tudo isso é claro que observa a coerência com o artista conduz sua produção.
H: Dê, por favor, uma dica para os leitores de Hardecor.
CD: Minha dica é para que todos os que nos leem prestarem atenção na produção artística a partir de sua cidade. Visitem os espaços culturais, participem, opinem e colaborem. Conheçam os artistas de sua cidade e ampliem a partir deste conhecimento todos seus horizontes. O mundo das artes visuais é rico, complexo e fascinante, mas quem não aprende a respeitar e cuidar do local onde está inserido em geral não consegue avançar num universo maior de possibilidades. Desejo curiosidade e boas experiências a todos.
MACS: https://www.macs.org.br/
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