“Tudo é rio” é o livro de estreia de Carla Madeira

“Tudo é rio” é o livro de estreia de Carla Madeira. Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma tragédia, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso bastante incomum. Na orelha do livro, Martha Medeiros escreve: “Tudo é rio é uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais lenta é quase impossível, pois a correnteza dos acontecimentos nos leva até a última página sem nos dar chance para respirar. É preciso manter-se à tona ou a gente se afoga.” A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem. O questionamento que rege Tudo é rio, é uma das perguntas mais difíceis da humanidade: é possível perdoar alguém que nos causou a maior dor da vida? É admirável que uma autora se aventure em uma questão tão difícil logo em sua primeira obra. Mas, no fundo, o centro deste pequeno livro não é a trama, mas a linguagem. Tal como outras autoras, aqui estamos diante de uma escrita poética particular, fluida – tal como a água do título e que é uma metáfora que rege todo o livro. A história deste triângulo é marcado pela infelicidade. Tudo é rio é uma investigação sobre a água, ou seja, sobre tudo aquilo que não se pode controlar. Inventivo na forma, o romance organiza-se por capítulos que desobedecem a ordem cronológica e vão e voltam, tal como uma série televisiva em que a câmera muda a cada cena. O tema do amor e da tragédia não tem nada de original, mas o grande trunfo de Carla Madeira é a forma pela qual sua linguagem poética, suave, nos conta essa história. O amor, o ódio, a raiva, são sentimentos que, quando represados, tensionam o sujeito que sente e o torna cada vez mais próximo da morte. Aqui temos uma obra que permanece ressonando no leitor, mas não em sua mente racional, mas nesse intangível lugar onde mora aquilo que não conseguimos traduzir em palavras. O livro é de 2014, e foi relançado pela editora Record, sendo o segundo mais lido em 2021, atrás apenas de Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, outro livro lindo. O livro é maravilhoso, um dos melhores que já li, e olha que já li muitos livros incríveis. A poesia de Madeira é palpável. Na Gato sem Rabo, livraria em São Paulo que só vende autorAs, você encontra. Aproveite e já garanta “A natureza da mordida” e “Véspera”, os novos títulos da autora!

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via: Amazon & escotilha.com.br

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