Thiago Pethit em entrevista exclusiva à Hardecor

Thiago Pethit em entrevista exclusiva à Hardecor conta um pouco da sua trajetória e inspirações. Fala ainda de política e expectativas. Thiago tem formação de ator, mas pensava em encarar a literatura como carreira. Indeciso, foi para Buenos Aires dar um tempo. Lá, resolveu fazer um curso de um ano em uma escola de música. O tema? Tango. A partir daí, Thiago entendeu que a música reunia elementos que iam de encontro as suas expectativas,e resolveu  se assumir como músico. Artista independente, foi aprimorando seu talento, e com o tempo ganhando mais e mais fãs. O trabalho de Pethit é lindo, poético e ao mesmo tempo, forte, sexual e bem humorado. As músicas são todas de sua autoria, e neste último trabalho, Rock’n’roll Sugar Darling, flerta com o rock. O show é demais. Thiago e seus músicos fazem ótima apresentação, cheia de energia e alegria. Fica muito claro que ele é um músico/profissional de verdade, que ama o que faz. Não perca!

O ultra fofo Thiago Pethit.

O ultra fofo Thiago Pethit.

Hardecor: Quem é Thiago Pethit?

Thiago Pethit: Humm….Thiago Pethit é um artista…que gosta de trilhar pelos caminhos mais inusitados, as vezes pelos mais errados, as vezes pelos certos de um jeito errado. (risos). Acho que é isso.

H: Quais são seus desafios hoje?

TP: Acho que o principal desafio é me manter enquanto artista no formato que eu mesmo criei, porque eu sou um artista independente e vivo já há cinco anos de música, sem nenhum tipo de apoio ou patrocínio, nem por leis governamentais, nem nada, então acho que o maior desafio é conseguir enxergar sempre um futuro possível, podendo continuar desse jeito, podendo descobrir artimanhas para driblar o próprio mercado da música e me manter dessa forma, sentindo que eu preciso só de mim mesmo.

H: A gente percebe nas suas músicas e clipes uma certa nostalgia. Que referências são essas, Thiago?

TP: Eu digo que não é nem uma nostalgia, porque na verdade eu não tenho saudade do passado, eu adoro viver no tempo presente, adoro estar no século XXI, em 2015, fazendo música, mas sinto que o passado é importante. Como artista a gente sente que tudo já aconteceu, artisticamente, mesmo culturalmente ou historicamente o mundo já passou por tudo o que a gente ainda vai ver, porque na verdade tudo acontece em eternos ciclos, então as vezes a gente precisa visitar esses lugares do passado para tentar trazer alguma luz sobre o presente. Por exemplo, esse momento do Brasil que a gente tem vivido é um momento super careta, um momento que teve um avanço muito grande de figuras muito retrógradas entrando no poder e de repente a gente tem que discutir de novo o uso da mini-saia porque se a mulher sai de mini-saia ela esta pedindo para ser estuprada. É isso que os caras dizem, então tem que voltar para um feminismo tão básico, para regras tão simples, e isso já aconteceu, isso está lá no passado, a gente já encontrou medidas lá no passado, nos anos 1960 as mulheres encontraram medidas para fazer esta luta e a gente volta tantos anos depois no mesmo assunto, com os mesmos tópicos, sempre tentando avançar um pouco e com muito retrocesso também. O passado é bom justamente para isso. Como artista eu gosto de usar referências que estão lá no passado muito para desvendar o que está acontecendo agora. Lembro que no meu segundo disco, Estrela Decadente, de 2012, tinha muito de cabaré alemão e o cabaré alemão veio exatamente antes do que seria o nazismo na Alemanha, e acho que essa coisa dos políticos fundamentalistas, penso que existe um paralelo entre uma coisa e outra. Então se na minha cabeça os políticos fundamentalistas estão muito próximos do que seria um nazismo, qual é a resposta que eu dou? Aonde eu preciso buscar a minha contrapartida para lutar contra isso? No passado o que foi feito? Ah, foi feito tal coisa, então talvez eu possa usar essa mesma arma. Eu sinto que é um pouco isso, então eu já fui de cabaré à rock’n roll e por aí vai. Eu vou juntando/colando essas referências, sempre na ideia de construir algo novo. No fundo é isso, mais a ideia de construir algo novo do que de lembrar o passado, porque na verdade o passado não foi incrível, foi tudo igual, é sempre igual, na verdade agora está melhor.

H: A que você atribui esse retrocesso moral?

TP: Muitos anos de um governo que não olhou para uma população imensa e muito carente. Acho que não tem como falar disso sem falar dos governos FHC, do PSDB. Desde a ditadura uma população muito grande do país ficou esquecida, pobre, e sem nenhum olhar sobre eles, nem um tipo de cuidado e o único cuidado que essa gente achou foi nessas igrejas todas. Durante anos a gente vem assistindo isso acontecer. Não é uma novidade a igreja evangélica, a gente via na TV há 10 anos atrás, a gente tirava sarro disso na televisão, mesmo  sabendo a  força que isso tinha, que de repente isso saiu da TV, não é só na TV, não é só uma piada. É uma população imensa que agora é cada vez maior e que recebeu um olhar, que foi esse, desses pastores, dessas igrejas. Foram os únicos que olharam para essa população e falaram assim: “venham porque a gente promete alguma coisa para vocês.” Então na promessa e na não promessa eu vou na promessa. E agora a gente está arcando com as consequências, porque no fundo é uma cultura de muita ignorância. Eu digo sobretudo esse fundamentalismo retrógrado. Porque religião é uma coisa muito pessoal e que pode ser muito rica em vários aspectos, mas nesse aspecto tão chapado, com uma visão tão antiga sobre o mundo onde negros são inferiores, onde as mulheres são inferiores, onde os gays não podem existir, me parece de uma ignorância imensa. Só acredita nisso um povo que infelizmente não teve possibilidade de entender o mundo de outra forma.

H: O que prende seu olhar?

TP: Coisas belas e coisas feias que se tornam belas. (risos) Eu gosto muito de coisas belas, mas eu gosto mais ainda quando eu encontro belezas e coisas que são teoricamente feias. Eu gosto de tudo que é um pouco esquisito. Seja uma cidade como São Paulo ou uma música que soe estranhíssimo, mas que de repente tem algo muito belo. Isso prende meu olhar.

H: Que outros assuntos te interessam?

TP: Todos! (risos). Tá, todos acho que não, mas muitos assuntos. Eu me interesso muito pelas coisas que estão a minha volta e são muitas. Eu posso estar falando de política, como a gente falou, eu posso estar falando de economia, que é um assunto que me interessa, porque no fundo tudo interfere no meu trabalho. A politica interfere no meu trabalho, a economia interfere no meu trabalho, a sociedade, a cultura, a internet, a nova juventude, a velha juventude, os mais velhos. Eu me interesso muito pela sociedade e eu faço música porque isso me inspira, para o bem e para o mal. Como a gente estava falando de ter que achar uma resposta para alguma coisa ou de às vezes achar soluções dentro da própria sociedade. Então são coisas que eu me interesso em conversar com as pessoas. Eu fico muito ligado na internet. É engraçado isso, eu tenho duas páginas no Facebook, uma de pessoa física onde eu aceito todo mundo que me adiciona, então eu tenho lá cinco mil amigos que são cinco mil desconhecidos, mas que eu recebo na minha timeline. São pessoas muito diferentes e mesmo que a pessoa emita a opinião mais misógina, racista ou sei lá o que, que não tenha nada a ver comigo, eu continuo deixando ela lá porque eu gosto de entender a lógica das pessoas e de “empatizar” com aquele pensamento a ponto de entender o que ele está querendo dizer, e isso me interessa.

H: Como é a casa de Thiago Pethit?

TP: Uma zona (risos). Eu tenho uma estante gigante de livros que pega minha sala inteira e já não bastassem muitos livros, todos empoeirados, ainda tenho cacarecos e objetos de decoração que eu inventei. Tenho desde um cinzeiro muito chique que eu ganhei ao cinzeiro que eu roubei de um boteco quando era adolescente. Nas paredes eu tenho fotos, posters, pedaços de jornal com figuras interessantes, um maço de rosas secas que eu ganhei, fui deixando secar, pendurei de ponta cabeça e nunca mais tirei. Uma coroa de hera que usei em uma peça de teatro quando tinha 17 anos. É assim. Minha casa é toda cheia de cacarecos, cheia de coisas penduradas. Mas minha casa funciona muito para mim como um retiro absoluto, porque eu gosto muito, cada vez mais, de ficar dentro de casa. Eu não sou uma pessoa muito sociável, já tive a minha cota de festas e tudo mais. Então hoje em dia quando não estou tocando, fico em casa feliz, cozinhando para mim mesmo, fumando e lá naquele mundinho que é um mundinho à parte. Então minha casa é muito esse retiro onde eu me inspiro, onde me ligo no mundo desligado dele. (risos)

H: Você gosta de cozinhar?

TP: Adoro cozinhar. Precisava ter uma cozinha maior na verdade. Esse é o único defeito da minha casa.

H: Thiago, dê, por favor, uma dica para os leitores de Hardecor.

TP: Um livro! Um livro que eu li no fim de 2010, e penso nele desde então. Chama-se “Só Garotos”, da Patti Smith, uma poeta e cantora, compositora que viveu no começo do movimento punk em Nova York. Ela conta a história que viveu com o grande amor da vida dela que é o fotógrafo Robert Mapplethorpe, que morreu nos anos 1980 ou no começo dos 90 de AIDS. (A data é 1989) É um livro lindo, lindo, lindo, muito bonito porque é a história dela e dele, mas ao mesmo tempo é a história do mundo, é sobre Nova York nessa época, nos anos 1960, 1970. O que aconteceu nos anos 1980 com o mundo, como a gente veio parar em 2000. É muito interessante, muito bonito. Foi um grande momento do mundo. É bem interessante para se pensar no mundo, e ela escreve super bem. Eu li em um Reveillon, terminei de ler na noite do dia 31, em prantos. Não queria comemorar nada porque o livro é super triste, mas é lindo, é super bonito e no fim das contas foi super inspirador. (risos)

thiagopethit.com 

ONDE ENCONTRAR:

Clipe Thiago Pethit: vimeo.com

Livro Só Garotos, de Patti Smith: americanas.com.br

Foto: Hardecor

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