Mauricio Arruda em entrevista exclusiva para Hardecor

Apresentador do Decora, o arquiteto fala sobre a segunda temporada

O arquiteto e apresentador do programa Decora leva muito a serio todos os desafios de sua bem sucedida carreira. Mauricio desenvolve pesquisas na área de arquitetura e design sustentável desde 2000, é professor de Design de Interiores e Produto, ministra aulas em várias instituições de ensino, entre elas IED – Istituto Europeo di Design, Escola Panamericana de Arte, SENAC e SEBRAE além de palestras e consultorias para marcas como Natura, Skol e Docol. No design de produto, Arruda tem se consolidado como referência da produção contemporânea brasileira recebendo convites para expor em galerias e feiras nacionais e internacionais de design, e tem desenvolvido coleções para importantes marcas nacionais, entre elas a Tok Stok. Em 2015 uma de suas criações passou a fazer parte do acervo de Design do Clube de Colecionadores do MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo. Não é pouca coisa. Um dos pontos que certamente contribuem para o sucesso de Mauricio é a tranquilidade com que fala sobre erros e acertos. Mostrar para as câmeras o que ficou diferente do planejado não é para os fracos. À frente do programa Decora, na segunda temporada sob sua tutela, Mauricio concedeu gentilmente entrevista exclusiva para Hardecor. Ele é super simpático e ainda por cima tem (lindos) olhos azuis! [Veja aqui o post com fotos da casa do arquiteto]

O arquiteto e apresentador do Decora, Mauricio Arruda.

O arquiteto e apresentador do Decora, Mauricio Arruda.

Hardecor: Como você avalia o mercado de decoração hoje no Brasil?

Mauricio Arruda: O mercado cresceu  muito, está muito rico. Do ponto de vista dos profissionais, existe uma pluralidade muito grande, não só do ponto de vista do estilo, mas também do tipo de serviço prestado. Tem escritórios que dão apenas uma consultoria, fazem projetos relâmpagos, acompanhamento de obra, trabalhos online, então acho que é legal isso, é importante essa democratização, permitir que mais pessoas tenham acesso. Do ponto de vista do consumidor acho que temos um caminho longo porque, enfim, a gente não tem uma cultura de design no país, mas existe muita disponibilidade de informação, as pessoas tem muito interesse, então isso é bem bom. Hoje em dia, não é que elas não tenham informação suficiente sobre design, acho que elas não tem capacidade de eleger prioridades, porque elas compram revistas, tem a internet, programa de televisão, tem mil maneiras de você se informar, mas o que fazer com todas essas informações? Aí entra o profissional. Do ponto de vista da indústria, acho que tem falhas obviamente, também temos um caminho longo pela frente, mas a gente tem uma valorização grande do design nacional, grandes marcas hoje investem em design, marcas de varejo, que é uma coisa super importante. Indústrias que estão há mais tempo no mercado começaram a perceber que para se diferenciar precisariam investir em um designer nacional, buscar uma assinatura, ter produtos desenhados por designers brasileiros, então acho que é um momento de transformação. Tem tudo para acontecer ainda! Mas o mercado está bem interessante.

H: Você acha que a internet, com esse grande volume de informações, contribui para o mercado ficar aquecido e mais interessante, que o consumidor se interessa mais por decoração?

MA: Tenho certeza porque o grande papel da internet é a interlocução, ela é um veículo de comunicação, existe muita troca de experiências, muitos fóruns, canais, as próprias marcas com sites, blogs, Instagram. Os mais bem sucedidos canais de comunicação são aqueles que investem no diálogo com seu público, e esse diálogo trouxe muita informação para as pessoas. Elas perguntam de tudo, querem saber, pesquisam, e isso te dá a elas capacidade de eleger prioridades, se é possível caber no orçamento o sonho. Através da internet dá para achar um fornecedor que sem internet você não acharia de jeito nenhum. Acho que o diálogo é o maior benefício da internet.

H: Mauricio, fale um pouco, por favor, sobre o seu processo criativo.

MA: Eu dei muitos anos aula de design de interiores, e a princípio meu processo tem bastante racionalidade. Se não existisse racionalidade ou metodologia, não poderiam existir cursos, faculdades de design ou arquitetura. Eu acredito na metodologia de projeto. Acho que é importante. Primeiro, independente de ser no escritório, no Decora, design de produtos,  a gente faz um levantamento de dados, muito profundo e muito importante para poder descobrir coisas em relação ao local, ao cliente e problemas que serão resolvidos. A partir daí a gente costuma no escritório, o que chamamos de montar uma rede de conhecimentos, com fornecedores ou, em projetos mais complexos, com pensadores, que podem ser fotógrafos, um chef de cozinha, sociólogos, ou um outro escritório de arquitetura e a partir daí a gente cria um conceito, que é a ideia principal do projeto, de que assunto a gente quer falar, qual a sensação a gente quer transmitir, e então partimos para a fase do projeto. Você tem as informações, a rede formada, e sabe onde quer chegar e daí a gente começa a buscar soluções de fato para conseguir entregar aquele conceito, aquela história que queremos contar, mostrar. É muito baseado nisso, é claro que tem mil desvios, atalhos no meio disso tudo, o cliente que muda de ideia, o fornecedor, mas o frame é mais ou menos esse.

H: O que na sua opinião funciona sempre em um projeto?

MA: Ouvir o cliente!

H: O que a gente jamais vai ver em um projeto seu?

MA: Não existe cor feia, material feio, eu acho que o que existe é uma inadequação do uso das coisas, acho que não existe material mais ou menos nobre, existem materiais bem ou mal colocados. Eu não tenho preconceito de cor, de material, com absolutamente nada, que sirva de alguma maneira para eu concretizar aquele conceito que eu pensei, então pode ser um pallet, pode ser um piso vinílico, pode ser um mármore. Em geral você pode encontrar qualquer tipo de material de acordo nos meus projetos.

H: As pessoas falam muito sobre o cafona. Isso ou aquilo é cafona. Você acha que o cafona existe?

MA: Existe, super, mas eu acho que a coisa mais cafona que pode existir é a pretensão. Você querer ser aquilo que você não é ou esconder uma coisa que você é, isso é o pior de tudo, a pior de todas as cafonices. A gente vive um momento de super valorização das nossas memórias, das nossas experiências, da nossa história, do nosso passado. De fato há alguns anos, era difícil usar um móvel de família ou um móvel usado, e hoje em dia existe uma cultura de ver uma coisa positiva nisso. Se fala muito hoje de memória, da sua cidade, da sua cultura, da sua família. Ficou mais simples misturar estilos, e no fundo é nessa cara que eu acredito. Quando a gente coloca essas cartas na mesa, fica de verdade um projeto único. Vai ser a casa da Valéria, a casa do Mauricio. E quanto mais a casa falar de você, melhor vai ser o projeto e menos cafona ele vai ser.

H: Existe um estilo de decoração do Mauricio?

MA: Existem coisas que eu acredito, eu não sei se dá para definir dentro de um estilo apenas. Hoje em dia a gente transita entre muitos estilos. Eu busco projetos que sejam mais atemporais, materiais e soluções duráveis, porque eu acho que também é uma questão de economia. Tem uma certa brasilidade nos meus projetos, um pouco de humor, um pouco de uma casa mais colorida, mais quente, uma preocupação de sustentabilidade que está inserida no trabalho, o reaproveitamento de materiais, o garimpo de peças antigas. Eu nunca tive um cliente que batesse no meu escritório e falasse que tem um milhão de dólares, ou que o badget é ilimitado. Eu não sou esse arquiteto. Eu já sofri muito com isso, hoje eu não sofro mais. Antigamente eu esperava encontrar eternamente cliente rico, é como ficar esperando o príncipe encantado que viesse em um cavalo branco. Não aconteceu e nunca vai acontecer comigo e eu trabalhei isso e estou muito tranquilo nessa questão. As pessoas que vão até o meu escritório estão esperando projetos que na maioria das vezes, sejam economicamente viáveis. Isso é muito legal porque as pessoas me veem como o arquiteto que traz soluções reais, que realmente são possíveis de fazer, e não que vão morrer no papel.

H: Você entende que isso já é uma marca do seu trabalho?

MA: Eu acho. A não ser que amanhã, depois dessa matéria apareça um cliente rico. (risos) Eu te convido para um jantar!

H: Opa! Claro! Maurício, você está fazendo o Decora, a primeira temporada foi um super sucesso. O que mudou na sua vida com o Decora?

MA: Eu conversei muito com o Marcelo (Rosenbaum) e com a Bel Lobo (ex-apresentadores do programa). Fui literalmente pedir conselhos sobre o programa, e essas conversas foram muito importantes, e a Bel me falou uma coisa que eu sempre vou repetir: “Nossa, vai ser demais você fazer o Decora. O programa mantém sempre seu cérebro funcionando e seu coração aberto”, e isso virou um mantra para mim. Eu faço o Decora todos os dias, desde o primeiro dia, ou pesquisando, ou em lojas, ou gravando. Ele coloca meu cérebro funcionando na capacidade máxima. Eu  tenho essa sensação, que isso mudou. Tenho tentado fazer isso de maneira saudável, para não enlouquecer, mas é muito interessante, porque na prática esse cérebro funcionando 24 horas faz você sair da zona de conforto o tempo todo porque você trabalha muito com situações limite, em todos os sentidos. Ou porque o cômodo é muito pequeno, ou porque a pessoa pede uma coisa que você nunca pensou que iria fazer, ou no estilo ou em termos de solução. O público quando assiste te ama e tem gente que odeia, então aprendi a ouvir críticas que eu nunca tinha ouvido, nunca fiquei tão exposto desse jeito, mas por outro lado essa historia de estar com o coração aberto é uma “droga”! Eu preciso disso agora, no sentido de que você conhece pessoas maravilhosas, você muda literalmente a vida das pessoas. Elas vem e te abraçam, choram, te beijam e falam: “Você mudou minha vida, você mudou a minha casa, a vida da minha mãe”. E as pessoas ficam com a gente, mandam mensagens, presentes, postam e marcam você ­contando que estão usando a casa. Você recebe uma carga de amor que é muito grande, e quanto mais você está aberto para isso, mais interessante vai ficando o trabalho. Eu me envolvo muito em tudo o que eu faço, eu sou muito caxias, eu estou 200%  mergulhado no Decora. Aquilo lá sou eu. Faço aquilo que eu acredito. Mudou o ritmo, o cérebro, pensando fora da caixa, é uma explosão de experiências incríveis. É super gratificante.

H: Bonito isso, gostei!

MA: (risos) É um privilégio fazer o Decora na verdade. Acho que todos os arquitetos deveriam passar por esta experiência porque é uma experiência de criação e de amor. É muito legal.

H: É praticamente uma terapia profissional.

MA: É impossível você sair do Decora da mesma maneira que você entrou. Na verdade de qualquer coisa na vida. Você pode fazer uma pizza, um bolo ou o Decora, que se você se entregar vai sair diferente. O Decora é isso levado à potência máxima.

H: E quais são as novidades para a próxima temporada?

MA: A segunda temporada é uma revisão do que eu fiz na primeira. Eu li todos os elogios e todas as criticas nas redes sociais, as mensagens, índices de audiência, eu estudei os resultados daquilo que eu fiz. Na primeira temporada eu experimentei muita coisa, quis transitar entre estilos totalmente diferentes, queria falar de soluções super acessíveis, viáveis, criativas, fora da caixa. Pautei a temporada com soluções muito econômicas, quis fazer o guarda roupa mais barato, a marcenaria mais barata, a iluminação mais barata, a tapeçaria, e também era o momento que a gente estava vivendo. O que eu descobri? Descobri que as pessoas entenderam e viram isso, mas o programa tem o lado da inspiração também. O Decora é talvez o programa da televisão onde as pessoas mais busquem ideias. Ele vai sempre existir, independente de apresentador. Nunca foi o programa da Bel Lobo, nunca foi o programa do Marcelo e nunca vai ser o programa do Mauricio. O Decora é o Decora. As pessoas assistem porque elas querem ver soluções incríveis, como poderia ser a casa delas, o quarto delas, qual é o melhor material, a melhor combinação, e essa temporada vai amadurecer nesse sentido. Em soluções de marcenaria mais sofisticadas, combinações de materiais mais elaborados, projetos mais planejados. A gente vai estrear a temporada com uma cozinha planejada, feita em uma loja especializada. Marcenaria foi uma coisa que eu não fiz na primeira temporada. A gente vai continuar vendo muitas informações técnicas, explicando o porque de cada uma das soluções, dos materiais, as vantagens e desvantagens de cada um, muitos estilos diferentes. A gente vai fazer de novo uma temporada inteira de ambientes domésticos, porque eu queria testar ainda outras coisas, queria mostrar soluções que eu não havia conseguido fazer na primeira, mas temos espaços de home office, que está rolando bastante, e no mês de outubro vamos ter três episódios especiais do mês das crianças, um quarto de bebê, um de pré adolescente e outro de adolescente. Ficaram programas muito ricos e isso é campeão de pedidos e cartas no Decora.

H: Você coleciona alguma coisa?

MA: Eu coleciono tábuas de cozinha! (risos) E coleciono pedras também. Gente, vão achar que eu sou louco, né? Eu sempre trago pedrinhas das viagens que eu faço. Tem uma mesa aqui em casa cheia de pedras. Eu sou um super acumulador, na verdade. Entra muita coisa em casa, mas também sai muita coisa. Na primeira temporada eu levei um monte de coisas da minha casa. Eu não tenho um apego pelas coisas. A energia circula bastante aqui em casa.

H: Mauricio, você pode dar, por favor, uma dica, de qualquer assunto que você preferir, para os leitores de Hardecor?

MA: Sim, super. Acabou de acontecer o Design Weekend, e eu não planejei, mas acabei comprando três livros. Posso falar dos livros?

H: Lógico! Deve!

MA: São três livros incríveis que encontrei em momentos diferentes da feira. Um é o primeiro livro do Atelier Marko Brajovic, que está completando 10 anos de carreira no Brasil. Ele fez uma coletânea de trabalhos, é um livro super bonito e bem escrito, tem a metodologia, não é um livro só de fotos, pelo contrário, é um livro de texto, muito inteligente, com ícones identificando, traçando paralelos e semelhanças entre os projetos. Todo estudante deveria ler. Ou melhor, todo mundo. O outro é o livro de Várzea Queimada, que é sobre o projeto do Marcelo Rosenbaum, o AGT, ( A Gente Transforma). Eles lançaram um livro contando a história desse povoado, eu conheci o lugar o ano passado, foi implantado o projeto lá e é um projeto de design essencial, de desenvolvimento social, é um trabalho muito profundo, muito sério, profissional, de desenvolvimento humano também. É um livro lindo, maravilhoso, poético. Conta toda a história do redescobrimento do design local, da palha de carnaúba e da borracha de pneu. O livro se chama “Várzea Queimada, Espírito, Matéria e Inspiração”. E por último o Senac lançou o livro  escrito pelo Eduardo Motta, “Meu coração coroado” sobre o mestre Espedito Seleiro. Eu acho que o Espedito tem a alma do Brasil no trabalho dele, que é muito bonito, muito inspirador. Ele tem um DNA muito brasileiro, muito colorido, muito romântico, muito lindo. Então são três livros que estão aqui na minha mesa.

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ONDE ENCONTRAR: Mauricio Arruda: http://www.mauricioarruda.net/#intro; Decora na GNT: http://gnt.globo.com/programas/decora/

Fotos: Shupicov Fotografia

6 Responses
  1. Eu gosto muito deste programa . Quando eu posso assisto. As pessoas que tem seus sonhos refeitos por voces ficam felicissimas. E maravilhoso ver a belissima tranformacao e. a felicidade das pessoas. Parabens!

    • Oi Carmem
      Eu também adoro o Decora. O Maurício Arruda é muito talentoso e consegue perceber exatamente quais são as expectativas dos seus “clientes”. Além de ser super simpático e gentil.
      Obrigada por prestigiar Hardecor, Carmem.
      Beijo
      Valeria Coelho

    • Ele é um super fofo mesmo, Lucelia!!!
      Tenho certeza de que vai ficar feliz com seu elogio!
      Obrigada por prestigiar Hardecor.
      Beijo
      Valéria Coelho

  2. Eu sou louca com cada bonita eu sempre assisto o programa eu gostaria de decorar minha cada mais infelismente não tenho dinheiro se vc pudece me ajudar eu ficaria muito feliz moro em bh e meu nome e maria eneida sou dona de casa e tenho 3 filhos os gemios de 16 anos e omsis velho de 20 anos ele e caderante tem raralizia celebral por isso não posso trabalha fora mais gostaria de ganha este pressente uma decorao na minha casa .

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