La Historia Oficial é um filmão. Primeiro filme argentino a ganhar um Oscar, foi lançado na Argentina em 03 de abril de 1985, mesmo dia de início do julgamento dos primeiros militares. A noite de entrega do Oscar, quando o filme recebeu o prêmio de melhor filme estrangeiro, foi no dia 24 de março de 1986. Exatos dez anos antes, em 24 de março de 1976, a presidente argentina Isabel Perón era deposta pelas Forças Armadas, dando início à ditadura que duraria até 1983. As filmagens começaram em 1983, ano em que a ditadura militar argentina acabou, e por motivos de segurança a produção foi mantida em segredo até 1985. Alícia (Norma Aleandro), a protagonista, é uma professora de História da classe média argentina, e convive tanto com pessoas de esquerda quanto de direita, e apenas no momento está tomando ciência das tragédias geradas pela ditadura militar, que durou de 1976 a 1983. Após o retorno do exílio da amiga Ana (Chunchuna Villafañe), uma ex-presa política, as duas se encontram e Ana começa, no meio de uma conversa que gira em torno das lembranças da adolescência, a falar sobre sua prisão. Ao final de seu desabafo, seu relato chocante sobre os dias em que ficou presa e foi torturada, Ana diz: “Havia mulheres grávidas que perdiam os filhos ali. Outras os levavam, mas voltavam sozinhas, pois os filhos iam para famílias que compram sem fazer perguntas.” Alicia leva um susto grande, e reage: – “Por que você está dizendo isso pra mim?” É a partir dessa seqüência que o filme começa a revelar ao espectador do que, afinal, ele vai tratar. É a partir daí, também, que Alicia começará uma dolorosa jornada que a afastará inapelavelmente da pessoa que havia sido até então – uma burguesa acomodada, alienada, distante da realidade de seu país. Ela começa então a crer na possibilidade de que seu marido Roberto (Héctor Alterio) teria mantido relações escusas com a máquina repressora do regime e adotado “Gaby”, a filha de cinco anos do casal, depois que seus pais, possíveis presos políticos, foram assassinados. Roberto tem uns 50 e poucos anos, é empresário, diretor de uma empresa; não se diz exatamente qual é o ramo do negócio, mas o espectador saberá que a empresa tem ligações com um grupo americano; o espectador também poderá perceber que há algo de escuso, de ilegal, de corrupto, nos negócios de Roberto – que também incluem uma ligação não bem explicada com os militares. A investigação de Alícia para descobrir a origem de sua filha a leva a hospitais insalubres, à igreja frequentada pela família (onde se depara com o silêncio do padre, numa cena que causou problemas com a Igreja Católica por retratar a omissão desta para com o regime) e, finalmente, a uma manifestação das Mães da Praça de Maio. O filme é incrível e merece muito ser visto. Aproveite o feriado. Na Netflix.
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