Os 100 anos da Bauhaus

Os 100 anos da Bauhaus deram margem a inúmeras reportagens ao redor do mundo, e não é para menos. Incentivar a formação de comunidade através da arte: era esse, nem mais nem menos, o objetivo da Bauhaus. E não sem modéstia: a Bauhaus sonhava em servir ao “novo ser humano” com sua arte aplicada. Para Walter Gropius, primeiro diretor e fundador da Bauhaus, isso significava, entre outros, ligar diversas disciplinas de arte e artesanato. Os objetos criados deveriam ser desenhados de tal forma que sua produção fosse de baixo custo e rápida. O bom design deveria ser de novo acessível na Alemanha, um país cuja economia encontrava-se dizimada após a Primeira Guerra Mundial. Parecia até uma tranquila comunidade de artistas, no entanto a realidade da escola em Weimar estava longe de ser a de uma comuna criativa e harmônica. “Não havia consenso sobre nada”, relatou o pintor Josef Albers. “Se Wassily Kandinsky dissesse sim, eu dizia não. Se ele dissesse não, eu dizia sim.” No entanto, essa confusão artística era justamente o que Gropius ambicionava para sua escola: “O objetivo da Bauhaus não é um estilo, um sistema, um dogma ou um cânon, uma receita ou uma moda. “A escola vai viver enquanto ela não depender da forma, mas continuar buscando atrás da forma cambiável o fluido da própria vida”, dizia o mestre. A primeira estação da Bauhaus em Weimar (1919 – 1925) foi marcada por uma atmosfera de ruptura e ação. Gropius tentava recrutar ideias e criar oficinas. Enquanto na Bauhaus de Weimar o momento era de experimentar com teorias, seu sucessor, Hannes Meyer, começou a reduzir custos na segunda fase da escola em Dessau (1925 – 1932). Faltavam recursos financeiros para reflexões sobre cores ou formas básicas e o enfoque passou para o desenvolvimento de projetos de moradias sociais. Meyer falava de uma “proletarização” da Bauhaus. Sob a direção de Mies van der Rohe, por fim em Berlim (1932 – 1933), ocorreu a ruptura completa com a ideia original de criar efeitos de sinergia entre as diversas disciplinas artísticas. A Bauhaus transformou-se em uma escola de arquitetura. O conceito de “identidade corporativa” já existia na época da Bauhaus. Não só os projetos arquitetônicos dos prédios e o design de objetos cotidianos eram minimalistas e eficientes, como também a tipografia. Em 1925, Herbert Bayer, jovem mestre da Oficina de Impressão e Propaganda em Dessau, sugeriu a eliminação consequente das letras maiúsculas, pois romper conscientemente com as regras ortográficas do alemão, era tido como sinal de modernidade. Gropius surpreendeu-se com o fato de o mesmo número de mulheres quanto o de homens terem se interessado pela nova escola de artes. Com base na nova Constituição da República de Weimar, que assegurava às mulheres a liberdade irrestrita de aprendizado, elas também conseguiam vagas na Bauhaus. Porém, quem acredita que a Bauhaus era um lugar de vanguardistas sérios, que só tinham formas geométricas e abstratas na cabeça, está redondamente enganado. A Bauhaus causava furor não apenas por causa de seu design minimalista e revolucionário, mas também em função de suas lendárias festas temáticas ou à fantasia, bem como das noites de espetáculos de teatro e dança. A confecção de fantasias extravagantes e de perucas, bem como o ensaio de danças, levavam semanas. No palco, havia apresentação de peças como o Gabinete de Figuras, uma paródia do progresso e da técnica, ou o Balé Triádico, uma mistura grotesca de dança, teatro e pantomima. Ou seja, a rigidez do estilo Bauhaus era apenas um aspecto da vida em Weimar, Dessau e Berlim. Os membros da Bauhaus não precisaram esperar muito para ouvir palavras de escárnio a respeito de suas ideias pouco convencionais e das rupturas com as tradições. O filósofo Theodor W.  Adorno designava os prédios com telhados planos de “latas de conserva”. O pintor holandês Theo van Doesburg alfinetava, dizendo que a Bauhaus projetava “docinhos expressionistas”. E para o filósofo Ernst Bloch, a arte da Bauhaus era simplesmente “sem rosto”. Talvez esse sarcasmo deva ser visto como um fator do sucesso da escola. O pintor e pedagogo reformista Johannes Itten, que começou a dar aulas na Bauhaus em 1919, assumiu o papel de um mestre zen de viés esotérico. Adorado por seus alunos e odiado pelos adversários, ele levou à Bauhaus os ensinamentos da seita Mazdaznan. Da prática dessa seita faziam parte o vegetarianismo, o jejum, bem como ensinamentos sexuais e de respiração especiais. Também seus métodos de ensino eram controversos: exercícios físicos e de respiração faziam parte do programa tanto quanto seus ataques temperamentais de raiva quando os alunos não faziam o que ele queria. Itten deixou a Bauhaus em 1923 depois de uma briga com Gropius. Muito do que hoje em dia se pratica em arquitetura, design de interiores, design de móveis, paisagismo e artes plásticas em geral presta, de uma forma ou de outra, tributo à Bauhaus. A escola Bauhaus, em alemão, “Casa da Construção”, foi uma das mais expressivas e influentes instituições de arte do século XX, e apesar de 1919 ter sido um dos anos mais duros para os alemães por causa da guerra, foi nessa época que apareceram grandes movimentos artísticos na Alemanha, como o expressionismo, no cinema, e a própria Bauhaus, uma das escolas que mais ousaram. Talvez exatamente por isso, na década de 1930, as perseguições pelo governo aumentaram superlativamente, ocasionando a suspensão completa dos empreendimentos artísticos, que eram considerados pelos nazistas como propagadores de concepções artísticas degeneradas. Mas o legado da Bauhaus segue firme, 100 anos depois!! 

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via: goethe.de; https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/artes/escola-arte-bauhaus.htm

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