Mara Gabrilli em entrevista exclusiva para Hardecor, nos faz entender um pouco de onde esta mulher, que ficou tetraplégica aos 26 anos, tira força e coragem para levar a vida com sabedoria. “Depois daquele dia”, biografia de Gabrilli, escrita pela jornalista Milly Lacombe, fornece algumas pistas. Publicitária e psicóloga, Mara hoje é deputada federal, eleita com mais de 160 mil votos. Conhecendo de perto os problemas enfrentados pelos deficientes, Mara se engajou na missão de proporcionar melhores condições de vida, locomoção, acesso, enfim, vida civil minimamente respeitável aos deficientes, e a participação política efetiva foi consequência natural deste processo. Mara foi a primeira titular da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED), foi vereadora em São Paulo, fundou em 1997 o Instituto Mara Gabrilli, que apóia atletas com deficiência, promove o Desenho Universal, fomenta pesquisas científicas e projetos culturais. Mara escreve há oito anos uma coluna mensal para a revista TPM, reunidas no livro Íntima Desordem – os melhores textos na TPM, e mantém colunas na revista Sentidos e no portal Vida Mais Livre, além de colaborar com outras publicações. Comanda o programa de rádio Derrubando Barreiras: acesso para todos, na Eldorado AM, e o Momento Terceiro Setor, na rádio Trianon AM. Em reconhecimento a sua atuação, foi eleita Paulistana do Ano em 2007 pela revista Veja São Paulo, figurou entre os Cem Brasileiros Mais Influentes em 2008 no ranking das revistas Isto É e Época, e foi finalista do Prêmio Claudia 2008 na categoria Políticas Públicas. Dedicada, Gabrilli se empenha e vai em busca dos objetivos a que se propôs. Os mais de trinta milhões de pessoas com algum tipo de deficiência do Brasil agradecem. Mara tem rotina puxada, e entre os seus muitos compromissos, concedeu, generosamente entrevista exclusiva a Hardecor.
Hardecor: Quem é Mara Gabrilli hoje?
Mara Gabrilli: Mara Gabrilli é trabalho, profissão, transformação e movimento.
H: O que foi mais importante para que você pudesse aceitar sua nova vida?
MG: Ter sobrevivido. Depois disso, tudo ocorreu naturalmente… Eu nunca me questionei: “por que comigo?” ou lamentei como poderia ter sido minha vida se não tivesse sofrido o acidente. Ao invés disso, concentro meus esforços em pensar como poderei melhorar daqui para frente. Acho que isso foi fundamental.
H: Os avanços que você conquistou em relação ao seu corpo, são possíveis sem investimento financeiro?
MG: São possíveis sim, mas é claro que investimento financeiro ajuda muito. Algumas coisas são bem possíveis. O Instituto Mara Gabrilli, por exemplo, lançou recentemente uma cartilha gratuita com dicas de exercícios para lesionados medulares. Eu vejo que hoje, o básico do básico, que é querer se mexer, precisa muito mais de criatividade do que investimento financeiro.
H: O que é necessário para o deficiente ser respeitado no Brasil?
MG: Primeiro, é que ele tenha respeito do poder público, então, que haja política pública em todas as dimensões, e que o serviço público seja prestado com qualidade. E para isso tem que ter investimento financeiro, comprometimento e vontade política de fazer esse segmento sair da invisibilidade, e tem que ter muita campanha e muito trabalho, para conscientizar a sociedade.
H: Como os cidadãos podem contribuir para que os deficientes tenham uma vida melhor?
MG: Desenvolvendo em cada um a noção de cidadania. Assim já se começa a ter uma abordagem diferente com o seu meio, seja o espaço ou as pessoas.
H: O que é imprescindível na sua vida, agora, em 2014?
MG: Ter saúde para conseguir fazer meu trabalho, e no meu trabalho, o fundamental é conseguir ouvir as pessoas.
H: Sua visão política é diferente hoje, em relação ao primeiro mandato? Explique por favor.
MG: Eu acho que a minha intuição, as minhas intenções continuam as mesmas, mas acredito que eu tenha aprofundado muito a forma de executar o trabalho, a forma de enxergar a profundidade e a dimensão do envolvimento de cada setor para se construir política pública de qualidade.
H: Você critica duramente a corrupção, como muitos brasileiros, aliás. O Brasil tem solução?
MG: Claro que tem. Se eu não acreditasse, eu jamais teria enveredado por esse caminho. Precisamos de mudança, de novos ares.
H: Qual é a sensação de ter seu nome cogitado para a vice-presidência? Você pretende aceitar? (A entrevista foi feita dias antes do anúncio das escolhas para o cargo.)
MG: Eu fiquei muito lisonjeada e essa especulação me faz acreditar que realmente trilhei o caminho correto. Mas não houve convite formal. Se houvesse o convite, pararia para pensar com carinho sobre isso.
H: Qual é o seu sonho para o Brasil?
MG: Um Brasil mais humano, mais inclusivo, mais democrático, que respeite e contemple todo o seu povo.
H: Como você se diverte?
MG: Adoro um bom filme, uma boa música, com boa companhia, boa comida e um bom vinho. E calor. Calor me diverte (rs).
H: Como é sua casa?
MG: É uma casa que eu tirei todas as paredes que eu pude, inclusive do banheiro, uma casa que tem um espaço bom para que eu possa circular com a cadeira. E eu gosto de cores. É uma casa colorida. Mas ela está sempre mudando. Eu enjoo fácil, então estou sempre mudando os móveis de lugar e as cores.
H: Dê, por favor, uma dica para os leitores de Hardecor.
MG: Restaurante do MAM, (Museu de Arte Moderna) em São Paulo. É um lugar que une natureza e arte. Você pode visitar o Museu no Parque do Ibirapuera e comer muito bem.
maragabrilli.com.br; institutomaragabrilli.org.br
Foto: One Health Mag
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