Helena Montanarini em entrevista exclusiva à Hardecor

Helena Montanarini em entrevista exclusiva à Hardecor conta um pouco sobre sua casa, esclarece alguns conceitos e divide sua expertise com os leitores. Profissional de moda formada em desenho industrial, entrou no métier por acaso, produzindo fotos para a revista Noticiário da Moda, da Editora Abril. Logo estava em Paris, completando sua formação no Studio Berçot. Aí vieram os desfiles para Jean Paul Gaultier, Thierry Mugler, Chantal Thomass, e outros pesos-pesados. Nessa época, Helena fez os primeiros trabalhos de consultoria de estilo para a indústria têxtil. De volta ao Brasil, atuou como jornalista de moda do Jornal da Tarde e, ao longo do tempo, foi colunista das revistas Vogue, Casa Vogue, Vip, GQ, entre outras. Montanarini implantou e dirigiu a marca Giorgio Armani no Brasil, idealizou e implantou também a Daslu Homem, primeira multimarca masculina de luxo do país. “Um mundo que alguns acham supérfluo, mas que, para mim, sempre se mostrou imenso, cheio de oportunidades para aprender ou colocar meu conhecimento em prática”, conta ela. Helena participou ainda da criação da Noir, Le Lis, marca masculina da Le Lis Blanc. Mais um trabalho de A a Z: conceito, direção de estilo, compras internacionais e mood das lojas.“E, como para mim, a moda nunca coube em uma só caixinha, desenvolvi projetos para outros segmentos, idealizando a loja Conceito:FirmaCasa, o restaurante Dalva e Dito, criando figurinos para o teatro e decorando interiores”, completa. Helena foi  palestrante em eventos como o Milano Fashion Global Summit, e foi apontada pela revista The Italian Fashion Weekly Magazine como uma das seis compradoras mais influentes do mundo em moda homem.  Nascida na Itália, Helena Montanarini, super simpática e amável, vive em São Paulo.

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Helena Montanarini posa no living de sua casa em São Paulo, na poltrona Irmãos Campana, um amor à primeira vista.

 

Hardecor: Quem é Helena Montanarini?

Helena Montanarini: Curadora de moda e estilo.

H: Em que projetos você está envolvida hoje?

HM: Hoje estou criando uma marca para exportar. Criando um conceito de alma latino americana para exportar.

H: Masculina, feminina?

HM: É um lifestyle. Tenho um cliente italiano que quer entrar no Brasil e palestras e cursos sobre moda. Tem o tal do livro que me pedem sem parar, só que ainda não sei o título. Estou com vontade de fazer um livro diferente, não de certo e errado da moda, porque eu não acredito, mas um livro em que eu possa contar um pouco da minha experiência do backstage, uma coisa mais engraçada, mais leve, porque acho que falta um pouco esse humor na moda. Não sei se eu vou conseguir.

H: Com certeza vai! (risos). Defina estilo, Helena.

HM: Estilo é uma marca, um branding, o DNA de cada pessoa. É como essa pessoa se apresenta para o mundo. É a personalidade. Ela não tem que estar vestida na moda, na tendência, tem que ter uma coisa a mais, um estilo que vai chamar atenção, que é a personalidade. Eu como gosto de pessoas com personalidade, acho que o estilo tem que ser coerente. Se essa pessoa gosta de se vestir seguindo a moda, esse estilo é coerente com a casa dela, com o que ela faz, com os pensamentos, com a ética, é um conjunto, ok. O lifestyle dela fica mais forte do que ser de um jeito no trabalho, de outro em casa, fica confuso isso. Quando a pessoa tem estilo, ela tem mais personalidade, é mais positiva, é uma pessoa que não tem medo de enfrentar o mundo.

H: Quais são as principais diferenças que você percebe entre a mulher brasileira e a europeia em relação à moda?

HM: Perguntinha chata! (risos) Eu acho que a brasileira tem um estilo que a gente chama de mulher brasileira. Já deve ter acontecido de você viajar, está em Veneza, vê uma mulher e pensa: ela é brasileira, assim como você identifica a italiana, a francesa. Ela tem um jeito de andar, uma sensualidade na maneira de se vestir totalmente diferente da europeia. Não estou dizendo que uma á mais chique ou menos chique, mas ela tem um estilo próprio. O cabelo, a unha, o jeito de andar. É facilmente identificável. A europeia quando vem ao Brasil, gosta dessa maneira brasileira de ser, tanto que ela procura comprar algumas roupas, acessórios, que no fim ela não usa. (risos) Mas que ela acha que é uma maneira brasileira. É como a gente comprar a camiseta de marinheiro listradinha na França. Você chega no Brasil e nunca usa porque não está no seu contexto. O modo de vestir, o estilo, também tem a ver com o contexto. Você não pode ter um contexto tropical em Paris, porque não rola. Você pode se vestir no inverno e usar a bijuteria de um artesão brasileiro. Você não pode por um turbante, só funcionava para a Carmem Miranda, mas ela era uma artista. Essa brasilidade você tem com a sua personalidade. O sorriso, o cabelo bonito, pele bem tratada. As brasileiras são sempre gentis. Essas características é que vão diferenciar cada mulher.

H: Você até já respondeu, mas gostaria que você falasse sobre o certo e errado na moda.

HM: Não existe. Se você tem estilo e coerência, isso não funciona. É lógico que você tem que ter coerência com o seu corpo, seu arquétipo. Se você é  cheinha e quer usar um short, uma mini blusa, aí você não está sendo coerente com a estética. Agora, fora isso, tudo é possível.

H: Qual a peça do seu closet que você mais gosta?

HM: Eu tenho uma coleção de roupas brancas e uma coleção de roupas pretas, que se misturam entre si. Então depende. Posso te explicar? Eu tenho um armário minimalista, então tudo o que está lá eu gosto. O que não uso há seis meses, um ano, sai. Eu doo. Eu tenho uma ONG, então tenho essa coisa do desapego, doo as minhas roupas e as roupas das amigas. Fazemos um trabalho bem bacana de realocar essas roupas para o pessoal carente que precisa dessas roupas para trabalhar.

H: Tem uma peça que você mais usa? Ou isso é sazonal?

HM: Tem sim. Um legging preto e eu vou trocando a peça de cima, um jeans preto, é um básico central que é coordenado com o resto.

H: Como você define uma mulher elegante?
HM: Uma coisa que eu queria te dizer, que eu acho bacana é que você tem que ser versátil, tem que ser rápida. Quando você tem uma roupa básica, em viagens isso é fantástico. Você usa a mesma roupa de manhã, a tarde e a noite, só muda o acessório. Então, por exemplo, você pode estar com uma túnica preta e um jeans preto, ou uma camiseta branca. A noite você vai jantar, pega um brinco enorme na bolsa, uma pashmina e já está pronta e arrumada. Essa versatilidade é muito importante para ter estilo e marcar. Qual é a sua pergunta?

H: A sua definição de mulher elegante.

HM: Uma mulher coerente com ela mesma, essa coisa da personalidade. Uma mulher elegante não é elegante só na roupa, mas sim nos modos, no sorriso, é não falar alto, não ser abusiva, ser uma mulher centrada, agradável, educada. Eu acho que elegância tem muito a ver com educação, cultura. Pode ter uma mulher toda de Hermès e ela ser uma gafe em termos sociais ou em termos de bondade. Acho que o novo rico ainda tem muita vontade de mostrar o que eles tem, mostrar a posse. Só que uma pessoa que é chique, elegante, que tem tudo isso não mostra, não precisa exibir. A elegância está na fala, nos modos.

H: Como é seu processo criativo, Helena?

HM: Nossa, estou em pleno processo criativo. Como sou uma pessoa que pesquisa muito, eu fico com as antenas ligadas. Eu sinto uma tendência no ar, e vou desenvolver um projeto, então uso isso. Bolo um tema, por exemplo, e me aprofundo nele. Pego revistas, referências e faço uma colagem, um quadro. Coloco tudo o que eu acho que tem a ver com esse conceito que eu gostaria de criar, e a partir daí sai muita coisa. Depois vou para a forma. Faço o logo, depois os produtos e por aí vai. Mas é muito meu olhar em relação ao mundo e a esse tema específico. Foi assim com a Noir, da Le Lis Blanc. Agora estou pesquisando os países latinos, mas não as grandes cidades, mais a parte zen de cada país. Os desertos, as montanhas, o latino que não é o colorido, o latino terroso.

H: Fale um pouco sobre conceito, Helena.

HM: O conceito tem que estar presente para traduzir a marca, contar para aquele consumidor do que trata aquela loja ou restaurante. O Maní, por exemplo é a cara da Helena (Rizzo, chef do restaurante), e em São Paulo temos vários bons exemplos. Até um spa ou academia tem que ter uma marca, um sentido, uma alma. Você tem que entrar e identificar. A cor é outro aspecto essencial.

H: Fale para mim, por favor, sobre a decoração na sua vida.

HM: A decoração na minha vida é muito importante. Eu fiz desenho industrial, então sempre fui muito próxima ao design, móveis e objetos. Se eu não tivesse ido para a moda, que a vida me conduziu, acho que teria ido para algo nesse ramo. Mas sou absolutamente ligada à decoração. Eu compro revistas, pesquiso. Quando faço conceitos, como fiz o Dalva e Dito e muitas lojas, esse é um ponto muito importante para mim, porque eu acho que um móvel na loja traduz a marca. São símbolos. Você faz uma loja e esta tem que traduzir a marca. Tem que ter coerência. Na decoração, um objeto diz tudo.

H: Como é a casa de Helena Montanarini?

HM: Na minha casa, por exemplo, que fiz quase a quatro mãos com um arquiteto que tem a minha cara, o Marcio Kogan, tem um home office porque na época eu tinha um escritório dentro de casa, e este espaço é a frente da casa. Depois você passa por um corredor, como se fosse um lugar misterioso e chega à sala, que tem um pé direito alto.

H: O que a casa significa na sua vida?

HM: Eu tenho vontade de estar nela, ela me aconchega porque como ela tem a minha cara, tudo lá é o que eu gosto. Eu tenho poucos móveis, mas tudo o que está lá representa alguma coisa na minha vida. Não ponho um móvel porque tenho que por, ou um quadro para decorar a parede. Tem uma relação, ou de uma viagem ou de uma emoção, alguma coisa que me toca. A minha casa tem a minha cara. Quando as pessoas vão lá, falam: “Nossa, tem a sua cara”. Nenhum objeto é por acaso. Eu tenho uma estante com sete metros de altura, onde tenho meus livros e minhas referências, então é gostoso estar em casa. E gosto muito de cozinhar, é meu hobby, então recebo muito, tenho uma mesa grande onde cabem doze pessoas. Uma vez por mês ou a cada quinze dias, recebo os amigos, faço sempre uns grupos misturados, e cozinho.

H: Dê, por favor, uma dica para os leitores de Hardecor.

HM: Uma dica é fazer uma viagem pelos países nórdicos, porque existe muito design, muita referência, tanto na moda como na decoração e nos projetos arquitetônicos. O próprio lifestyle deles é demais, porque o mundo está tão carregado de informação que é preciso sentir este momento da purificação, da limpeza, do não over, do menos é mais, que é óbvio falar, mas é isso. Eu estive lá e fiquei surpresa e você tem os melhores restaurantes do mundo, além de museus incríveis. Eu daria esta dica para ir não no inverno, porque é muito frio, mas na meia estação, no verão. Fazer uma viagem para a Escandinávia.  

helenamontanarini.com.br

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